O PIANO EM MINHA VIDA: PAIXÃO E MEDITAÇÃO
(Texto e vídeos da Profa. Eliane Oliveira)
Salve
a saudosa Dona Maria Luisa Lima, grandiosa pianista e minha eterna
professora de piano. Ela ainda está comigo me ensinando toda vez que
toco (In Memorian).
Salve meus pais pela sua forte musicalidade e pelo incentivo aos filhos na vivência da música!
(Texto e vídeos da Profa. Eliane Oliveira)
Não
sou uma pianista, mas toco piano desde os 12 anos de idade.
Tocar
piano sempre foi para mim uma forma de meditação. Quando toco
piano, param os meus pensamentos. Sou tragada para dentro da música.
Não há mais “eu”. Só a música. Eu sou o instrumento dela. Sou
o seu piano. Não sou eu quem a toco mas ela quem toca em mim. Ela
toca-se a si mesma através de mim. Meu corpo é apenas um canal por
onde ela passa. Empresto minhas mãos, braços, respiração, olhar,
coração para ela passar. Tocar piano é uma experiência de
entrega, de fluxo, de confiança. Você deve se deixar conduzir, se
quer que a música seja.
Obviamente
que, antes de deixá-la fluir livremente através de você, é
fundamental saber tocá-la. Para isso, existe a técnica. É preciso
estudar a partitura. É preciso exercitar os dedos com escalas e
arpejos. É preciso repetir os movimentos muitas vezes. É preciso
treinar a música insistentemente. É preciso voltar naquela parte da
música que lhe exige mais atenção dada sua dificuldade. Isso
sempre. Há uma mecânica. Há um trabalho. Mas, paradoxalmente, se
se quer ouvir a música, após ter aprendido a técnica, deve-se
abandonar a técnica. Quero dizer com isso: a técnica estará lá
porque foi assimilada pelo corpo, mas não se pode pensar mais nela.
Inicia-se o tempo da alma, quando a música se revela, para além de
você mas com você. Algo espiritual.
Lembro-me
que, ao longo do tempo, o piano e a música que toquei nele foram
para mim tal como um mestre (ele) para seu discípulo (eu). Exerceram
sobre mim uma função terapêutica, senão a própria cura através
da arte. Pois, ao tocá-lo, era possível acessar áreas profundas da
alma onde moram minhas sombras. A alegria, a tristeza, o prazer, a
raiva, a saudade, matérias tão sutis, podiam ser, dependendo do
caso, potencializadas ou expurgadas. Foi assim, por exemplo, toda vez
em que estive apaixonada. Nunca consegui estar apaixonada sem tocar
piano, ouvir música e fazer poesia. Ainda mais se o amor não era
correspondido. Aí mesmo é que a música e o piano cabiam como a
minha forma de expressão mais visceral.
E,
foi por causa do coração doído fruto da frustração de um amor que não se desdobrou como eu pensei que se desdobraria que, recentemente, em janeiro deste ano
(2016), trouxe o piano para morar comigo no meu apartamento. Ele, o
instrumento –- um Essenfelder - nem sempre viajou comigo na minha
jornada de vida. Ficou hospedado na casa dos meus pais em alguns
períodos, e eu só tocava ao visitá-los. Mas, não tive dúvidas de
trazê-lo para perto de mim agora. Era urgente. Estava apaixonada por
um homem que não me correspondia, e, para acolher e transmutar minha
tristeza, era preciso conectar minha essência e permanecer no meu
centro, fechar os olhos, aquietar a mente e confiar. Meditação
feita com a música ao tocar piano. Sobretudo quando tocava as doces
linhas melódicas, dissonantes e polifônicas de Johann Sebastian
Bach. Há nelas beleza, densidade e verdade, feito poesia. São vozes
que parecem ser a minha e a de um outro, dialogando, encontrando-se,
entregando-se, misturando-se, entendendo-se, amando-se. A vivência
pura da não dualidade. O encontro e a dissolução de dois no Todo.
Sim,
professoras de Yoga também se apaixonam e vivem oscilações de
sentimentos e pensamentos. Mas elas conhecem também maneiras de
voltar para o seu centro. Aprenderam essas maneiras com os antigos
mestres através de outros mestres, e hoje ensinam essa sabedoria
ancestral aos seus alunos, como se elas (professoras) fossem
instrumentos musicais da Música (a sabedoria ancestral). Quanto mais
praticamos Yoga, conectamo-nos com nossa essência, aquilo que está
além do ego e que descansa tranquilo em nós: a felicidade. A
felicidade já está realizada dentro de nós, mas somos tão
ignorantes dessa verdade que passamos toda a vida procurando por ela
lá fora. A prática do Yoga, progressivamente, nos deixa cada vez
mais sensíveis e perceptíveis da vida abundante que temos pulsante
em nós. Yoga é ele próprio meditação. Equilibrando corpo, mente
e espírito, mais nos sentimos realizados e desejamos viver a vida
com Vida. Adquirimos e/ou aprofundamos a consciência de que podemos
experimentar o mundo com plenitude, integrando tudo o que somos. A
arte é um caminho para esse autoconhecimento. Somos todos múltiplos
em talentos. A Criação É em nós. Se acreditarmos nessa plenitude
da alma, ela será livre, leve e solta. Feliz como ela já é.
Tudo é como deve ser. Acredito e confio que era pra ser exatamente o que foi, do jeito que foi, no limite do que foi. No limite que foi, foi bom. Guardarei na memória a boa lembrança, o carinho e o respeito por aquele homem. Agora, é preciso continuar o caminho. Sigo, como Deus quer. Fluir, sem brigar com a vida.
Salve meus pais pela sua forte musicalidade e pelo incentivo aos filhos na vivência da música!
Salve
meus mestres de yoga (em especial Prof. Paulo Murilo Rosas, com quem
aprendi o Dakshina Tantra).
Salve
todos os músicos e artistas, em especial o saudoso pianista,
companheiro e amigo Alan Warszawski (In memorian + 1995-2010).
Salve
a Música!
Salve
o Amor!
Salve
a Essência!
OM
Sarasvatyai Namah!
Namastê!
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eliane.martins.oliveira@gmail.com
Espaço Uddiyana Yoga - Rua Almirante Tamandaré, 66/525 - Flamengo RJ



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