“É muito importante ouvir nossa
orientação interior em vez de deixar-nos influenciar por outras
pessoas”.
Sustentar a nossa fé e a nossa confiança é uma das partes mais importantes do desenvolvimento de uma vida espiritual. Qualquer pessoa pode manter um interesse por um curto período de tempo, ou até por um ano ou dois, mas quanto mais complexo e conflitante se torna o mundo, tanto mais difícil é sobreviver espiritualmente – sobreviver internamente - porque tudo parece tentar-nos com a intenção de afastar-nos da meditação e da calma interior, do nosso sentido de força interior e de sabedoria. Às vezes, podemos nos sentir desalentados com a nossa prática da meditação e podemos pensar que estamos apenas desperdiçando tempo e energia; acreditamos que nada está acontecendo realmente e que devíamos simplesmente desistir de praticá-las. Mas é importante estar atento a cada ação, em cada situação, e animar-nos, pois até um pensamento negativo pode inverter a nossa direção. Cada momento tempo o seu potencial de iluminação, mas cada momento tem também o seu potencial de destruição.
Quando
o mundo parece entregar-se de contínuo a sensações e fascinações
intermináveis, podemos proteger-nos, a nós e à nossa integridade,
decidindo com firmeza orientar-nos para onde não nos possam afetar
influências insalubres e enredantes. É muito importante ouvir nossa
orientação interior em vez de deixar-nos influenciar por outras
pessoas, pois podemos ser afastados como muita facilidade até das
nossas mais vigorosas realizações e determinações de ação
positiva. Assim sendo, cumpre-nos sustentar nossa dedicação inicial
à verdade, aconteça o que acontecer – tempestades emocionais ou
situações ameaçadoras. A pessoa que está comprometida com a
verdade e com o conhecimento genuíno nunca desiste; sua tenacidade é
um dos fundamentos mais importantes para descobrir a realidade.
Às
vezes, até pessoas inteligentes são induzidas a seguir padrões
alheios sem atentar para o que estão fazendo. Se isso nos acontecer,
poderemos, após algum tempo, perder a nossa autoconfiança original
e o nosso equilíbrio, e poderemos até começar a sentir-nos como um
verdadeiro fracasso. Depois que se manifesta essa fraqueza, nós nos
tornamos vulneráveis a emoções negativas e a situações
destrutivas, que ajudam a desequilibrar-nos ainda mais, como uma
infecção que se revela muito difícil de curar. Nossos conflitos
psicológicos ficam tão entrincheirados que a nossa mente se põe a
girar em círculos, sem parar.
Depois
que rejeitamos nossa orientação interior, não é fácil
encontrá-la de novo, porque nossos pontos de vista e motivações
podem ter-se alterado. Assim, como uma pessoa que tateia no escuro e
encontra um guia seguro, depois de estabelecermos contato com a nossa
força e a nossa percepção, não devemos permitir que elas nos
deixem. Isso é importante porque há momentos em que nos sentimos
fracos ou especialmente vulneráveis. Nem sempre é fácil ter fé no
nosso próprio julgamento mas, quando seguimos a verdade tal qual a
compreendemos, aprendemos a confiar em nós mesmos e a gozar cada
momento. Quando tivermos vivido a nossa vida dessa maneira, seremos
capazes de olhar para trás e compreender o quanto aprendemos e
fizemos, e quão felizes somos por haver logrado tanto conhecimento.
Ainda agora, sabemos o suficiente para ter confiança em nós mesmos
– e esta é uma fonte tremenda de orientação e de proteção.
Todos
os dias podemos expandir a nossa abertura de modo que a percepção
flua livre e naturalmente. Não precisamos de nenhuma outra
preparação. Podemos tentar meditar por muitos anos sem êxito; com
essa abertura, todavia, em muito pouco tempo poderemos aprender a
meditar perfeitamente sem nenhuma dificuldade. Quando meditamos com
essa abertura e deixamos todas as dúvidas e hesitações para trás,
a nossa orientação interior leva-nos, automaticamente, para os
ensinamentos que há lá dentro. Quanto mais se desenvolve a nossa
percepção, tanto mais nos abrimos para a experiência mental
espontânea.
Um
dos meus professores explicou, certa vez, que grandes lutadores como
os samurais, aperfeiçoam cada movimento, cada gesto, antes de travar
uma batalha, de modo que, ao enfrentar o inimigo, estão
completamente preparados. Não têm dúvida alguma sobre a maneria de
manobrar; já não pensam nisso. Limitam-se a fazê-lo, e cada
movimento é automaticamente perfeito.
De
forma semelhante, na meditação, enquanto não houver confiança
total e ainda subsistirem dúvidas para dirimir, tudo é prática e
preparação. Seja o que for que estivermos fazendo, podemos praticar
mantendo-nos perceptivos, no espontâneo momento presente. Não há
necessidade de perguntar, como é isso? O que é? Quem é? Aprendemos
a meditar perfeitamente, sem restrições ou segundas intenções.
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