“Depois
que essa inspiração e autoconfiança passam a ser o nosso mestre,
depois que estabelecemos contato com esse guia interior, podemos
sempre depender da nossa experiência e compreensão, em lugar de
depender do que está fora de nós”.
ALCANÇANDO A CONFIANÇA INTERIOR
A
confiança espiritual é mais difícil de atingir do que a temporal.
Podemos aprender com facilidade a dirigir um automóvel, a consertar
um aparador de grama ou a discorrer de maneira informativa sobre uma
série de assuntos. Mas como podemos apreender a atingir a confiança
interior? Não existem passos específicos que se possam seguir.
Entretanto, utilizando a introvisão, a força e a confiança obtidas
através da meditação, descobrimos naturalmente a verdade que está
sempre dentro de nós. E quando nos tornamos mais confiantes em nossa
experiência, começamos a ver que as crenças devocionais ou
sentimentais não são tão importantes. Aprendemos a acreditar e a
confiar em nós mesmos.
Quando
olhamos para a nossa experiência comum com uma atitude aberta, livre
de julgamentos ou de conceitos divisivos, vemos o sujeito e o objeto
naturalmente como um só. Desse maneira, o caminho espiritual se
torna parte da nossa vida – e não apenas um ideal abstrato,
reservado para ocasiões especiais. Quando a vivência da meditação
faz realmente parte de nós, as qualidades espirituais expressam-se
da forma natural em nossa vida diária, e podemos confiar de que a
nossa atenção meditativa nos fará atravessar quaisquer situações
que se nos deparem.
Depois
que essa inspiração e autoconfiança passam a ser o nosso mestre,
depois que estabelecemos contato com esse guia interior, podemos
sempre depender da nossa experiência e compreensão, em lugar de
depender do que está fora de nós. A nossa vida de todos os dias
dá-nos a substância do nosso processo de aprendizagem. Lá está a
matéria-prima – nossa carne, nossa respiração, nosso meio.
Quando aprendemos a aceitar-nos e apreciar-nos sem egoísmo ou sem
ficar agarrados ao ego, em vez de nos espojarmos na negatividade e na
autocondenação, começamos a criar qualidades positivas –
forças, confiança e sensações de leveza interior.
No
entanto, embora o potencial de iluminação esteja sempre dentro de
nós, poucos dentre nós a experimentamos. Estamos presos na
armadilha da nossa mente dualística. As culturas e religiões tendem
a ensinar uma visão dualística da existência, e para quase todos
nós é difícil libertarmos dos conceitos rígidos desses sistemas.
Por força da nossa tendência básica para polarizar a experiência,
esquecemo-nos de usar a nossa percepção em situações difíceis.
Ficamos ligados a um problema e deixamo-los controlar as nossas
mentes, ou cuidamos ser preciso avaliar a situação. Gastamos tempo
e energia. Entretanto, à medida que se aprofunda a nossa vivência
na meditação, sentimos menos necessidade de discriminar e julgar.
Começamos a transcender as nossas tendências dualísticas
desenvolvendo estabilidade e equilíbrio, e compreendendo que a
verdade espiritual se encontra em nós mesmos em nossa vida
cotidiana.
Podemos
ter alguma ideia de que existe um lugar de compreensão final, mas o
céu não está necessariamente em outro lugar. Está na natureza da
nossa mente, que é alcançada por intermédio da meditação.
Aceitamos simplesmente cada situação tal como se apresenta, e
seguimos nossa orientação interior – nossa intuição, nosso
próprio coração.
A
fim de despertar a atenção e aperfeiçoar a nossa percepção, é
útil examinar nossa autoimagem e personalidade perguntando a nós
mesmos: Onde estou? Que estou fazendo? Isso pode nos ajudar a
permanecer dentro da meditação e pode aumentar nossa atenção às
situações específicas em que nos encontramos. Pode arrancar-nos de
diálogos mentais confusos e da construção de imagens e, desse
modo, ajudar-nos a viver uma vida mais plena e mais significativa.
Tulku, Tarthang. Gestos de Equilíbrio: Guia para a percepção, a autocura e a meditação. São Paulo: Pensamento, 1977.
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