GREVE DE MIM
por Maurício Pássaro  



















Tudo está em greve.
Farei greve também, de mim mesmo.
Pregarei faixas dizendo “Fora Eu!”
Escreverei um grande e belo discurso
Falando dos meus erros,
Criticando o partido que sou,
Partido em mil pedaços inconciliáveis.
E tenho direito a segundos miseráveis
No horário eleitoral da televisão.
Sairei pelas ruas, de preto, sorrindo sarcástico,
Um anônimo que lança
pedras em suas próprias janelas.
Quanto o que prometi e não cumpro,
O que projetei e não se realiza!
Pago bolsas à população que vive em mim
Sempre esperando sua fidelidade na hora do voto.
Dou-me o peixe, mas não me ensino a pescar.
Eu pescando meu próprio peixe, isto seria perigoso,
Revolucionário, um milagre de multiplicação,
Eu não precisaria mais de mim para me eleger,
Isto sim um atraso.
Vez em quando essa população interna sai pelas ruas [também interiores
Pedindo ao governo que governo
Simplesmente a prestação de serviços melhores,
Praticamente em todos os setores.
Por isso estou em greve.
Daí meu plano ser tácito.
Mas, se você me encontrar estático, no meio da rua,
É porque estou no mundo da lua
Engarrafando o trânsito. 

Publicado com permissão do autor em 01/06/2014, às 17:03.

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