COM-TATO (Texto da profa. Eliane Oliveira)
Escreva-me uma carta.
Espaço Uddiyana Yoga - Rua Almirante Tamandaré, 66/525 - Flamengo RJ
Escreva-me uma carta.
Gosto
de textos feitos com palavra.
Pode
ser longo.
Pode
ser curto.
Mas
escreva-me palavras.
Comece
com data no cabeçalho e depois com o meu nome na saudação.
Algo
do tipo: Rio, 14/05/17, Oi Eliane.
Escreva-me
um bilhete.
Prefira
papel e caneta.
Email
serve mais ou menos. Não haverá nada mais visceral que uma folha escrita com
suas letras. Suas.
Papel
seu que tocarei e terei meu depois de ter sido tocado por você que escreveu.
Papel
que carrega o suor das suas mãos, a tinta da sua caneta, a força da sua
intenção, o tempo escolhido do seu dia.
Se
o assunto for funcional, tudo bem o virtual.
É
mais prático. Pá-pum.
Se
o assunto for amizade ou amor, deve ser recebido, aberto, lido, comido,
deglutido, ruminado, silenciado, guardado, sentido.
Quanto
mais viscoso, quanto mais textura mais presente será sua presença.
É
preciso que haja “face” (rosto, pele, olhos, cheiro) e não feice (de facebook).
Coloque
na caixa do meu correio, use o serviço postal ou deixe debaixo da minha porta.
Descobrirei
o desenho da sua letra e já conhecerei você ao conhecê-la.
Pode
também me telefonar.
Gosto
de ouvir a voz de quem fala.
Na
hora, os dois na linha, um aqui, outro lá.
Gravações
da fala parecem telefonemas, só que não são.
Gravações
podem ser cortadas, desfeitas, editadas.
Em
telefonemas, presenciarei sua reação direta, espontânea, reticente, sem tantos
filtros.
Se
preferir, estou em casa. Toque a campainha.
Quando
você chegar, poderei tê-lo de perto, corporal.
Conversaremos
à mesa do café com bolo ou na sala quase sempre meio bagunçada do dia-a-dia.
Se
me vir na rua, no corredor, na portaria, na praça, no supermercado, se quiser
falar comigo sobre algo sobre nós, deve falar a mim diretamente,
reservadamente, e não na presença de outros, senão eu e você.
Que
ninguém mais, a não ser nós dois, esteja entre nós para amenizar a tensão, o
frio na barriga, a insegurança, o brilho nos olhos, a humanidade desse
“com-tato”.
Assim,
sim: a vida será real.
E
quando finalmente nos tatearmos um ao outro, poderemos rir juntos.
Comentários a esse texto: eliane.oliveira.medita@gmail.com
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