CONTENTAMENTO
Entrevista à Monja Cohen à Folha de São Paulo
"A felicidade está diretamente
ligada ao que chamamos de sabedoria, ou de compreensão superior."
Folha de São
Paulo - Cientistas têm estudado os efeitos da felicidade e de estados de
contentamento na mente humana em decorrência de práticas alternativas como a
meditação. Como meditar pode ajudar na busca pela felicidade?
Monja Coen -
Fizeram uma pesquisa com monges de um grupo de meditação do dalai-lama. Havia
uma diferença entre os monges mais antigos e os mais novos em relação ao espaço
do cérebro onde as reações de felicidade foram detectadas. A conclusão
científica a que chegaram é que podemos nos treinar para ser mais felizes. As
práticas meditativas levam a um estado de compaixão e isso é comprovado
materialmente nos neurônios. Eles são plásticos e, assim como os músculos,
podem ficar mais fortinhos se começarmos a procurar no outro alguma coisa boa.
Folha de São
Paulo - O que é felicidade na sua opinião?
Coen - A
felicidade está diretamente ligada ao que chamamos de sabedoria, ou de
compreensão superior. Essa compreensão é nossa, da espécie humana. Não é para
eleitos. É um estado de deslumbramento com a vida, mesmo na dor, no sofrimento.
Folha de São
Paulo - A dor e o sofrimento fazem parte?
Coen - A felicidade
não é uma coisa que aniquila a dor. Não dá para dizer "não vou ter mais
sofrimentos, só vou ser feliz". A verdadeira felicidade é você perceber
que a beleza é um processo contínuo. Se alguma coisa me magoa, eu fico triste.
Eu não posso ficar alegre com a tristeza. Faz parte da experiência humana
sentir saudade, amor, ternura, ficar triste, ter medo da morte. É trabalhar o
que está acontecendo com você e não negar, não iludir. Não adianta querer
cobrir com um veuzinho muito fino aquilo que é a nossa verdade.
Folha de São
Paulo - É possível ser zen e sentir raiva?
Coen - Não
existe esse negócio de "ah estou zen, nada me incomoda". Se estou
zen, estou vivo. Estou com os pés no chão e sou um elemento de transformação do
mundo. A indignação e a raiva são maravilhosas porque são elas que nos motivam
a querer uma ação de transformação.
Folha de São
Paulo - O contentamento não se confunde às vezes com o conformismo?
Coen - Há
uma história budista que diz assim: a pessoa contente é feliz mesmo dormindo no
chão duro. E aquele que desconhece o contentamento é infeliz mesmo dormindo num
quarto luxuoso. Não significa que todo mundo tem de fazer voto de pobreza. Não
é apenas se conformar com a situação. O caminho para essa busca da felicidade
nem sempre é muito alegre. Há momentos em que você fala: "Não está
acontecendo nada!". E, sem isso, você não chega lá. Não é só fazendo
massagem e cuidando do corpo que encontramos felicidade. Nem só cuidando da mente
e abandonando o corpo. Somos uma unidade, nosso corpo e nossa mente estão
unidos.
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